O médico e presidente da Confederação Israelita do Brasil, Cláudio Lottenberg, afirmou à CNN que o papa Francisco irá deixar “um sentimento de grande saudade” na comunidade judaica, além de esperar que o legado do pontífice e a busca pelo diálogo inter-religioso que ele propunha, não só continue ao longo dos anos, mas melhore a partir de um novo líder da Igreja Católica.
“O Papa foi um amigo muito próximo do congresso judaico latino-americano, do congresso judaico mundial (…) Ele tinha prazer de estar com os judeus, portanto foi uma época de ouro em termos de relacionamento”, disse.
Nos 12 anos em que serviu como papa, o argentino nascido Jorge Mario Bergoglio, pregou a união entre as religiões, condenando o antissemitismo, preconceito e intolerância, buscando a paz entre os povos.
Ao relembrar uma visita ao Vaticano, Lottenberg afirmou que o pontífice se envergonhava dos acontecimentos do Holocausto, e da incapacidade da igreja interferir no evento.
“Ele me confessou em uma visita que eu tive o prazer de fazer lá no próprio Vaticano, que ele se envergonhava muito daquilo que aconteceu durante o episódio do holocausto, da incapacidade da igreja poder interferir para evitar que esse evento, talvez o mais trágico da história do povo judeu certamente, mas acho que da humanidade um dos piores, para que ele não tivesse acontecido”, afirmou.
Em fevereiro do ano passado, o papa classificou as formas de antijudaísmo e antissemitismo, classificando-os como um “pecado contra Deus”. Já em relação ao seguimento do legado deixado por Francisco, Lottenberg afirmou que o religioso “traduz uma nova mentalidade”, que não deve ser mudada.
“Na dependência de quem for ser escolhido, evidentemente que isso poderá ser melhor ou pior, progredir de maneira mais acentuada ou mais lenta, mas eu sou otimista (…) Eu tenho a impressão que a gente vai ter aí uma jornada que significa prosperar aquilo que ele pregou e defendeu e aquilo que significa uma compreensão maior entre aqueles que são diferentes”, declarou.
Morte do papa
Líder da Igreja Católica desde março de 2013, após a morte de Bento XVI, Francisco marcou a história do Vaticano como o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.
O pontífice morreu após um AVC e uma falência cardíaca irreversível, informou o médico do Vaticano, Andrea Arcangeli, em um atestado de óbito divulgado nesta segunda-feira (21) do pontífice de 88 anos.
O corpo estava previsto para ser colocado em um caixão ainda nesta segunda. Na manhã da última quarta-feira (23), será iniciado o velório do líder da Igreja Católica, aberto aos fiéis. A data do funeral, cerimônia que antecederá o sepultamento de Francisco, ainda não foi divulgada.
Histórico de saúde
O papa Francisco sofreu diferentes crises de problemas de saúde nos últimos dois anos.
Ele era particularmente propenso a infecções pulmonares após ter desenvolvido pleurisia quando jovem adulto, uma inflamação da membrana que reveste os pulmões. Devido à condição ele teve parte de um dos órgãos removida.
Em julho de 2021, o papa teve 33 centímetros do seu cólon removidos em uma operação de seis horas que visava tratar uma condição intestinal chamada diverticulite. Já em 2023, Francisco foi internado em duas ocasiões diferentes.
Em março, o líder da Igreja Católica foi levado ao hospital após reclamar que tinha dificuldade para respirar, e se recuperou rapidamente após receber antibióticos para bronquite. No mês de junho, o pontífice passou mais nove dias hospitalizado para realizar uma cirurgia abdominal, a segunda na região em um período de dois anos.
O papa também usou uma cadeira de rodas nos últimos anos devido a dores no joelho e nas costas. Durante a internação, ele continuou com fisioterapia para ajudar na mobilidade.
*Sob supervisão de Thiago Felix
