Nas décadas de 1980 e 1990, à frente da Regino Veículos, vivemos um tempo em que inovar era uma necessidade, não uma escolha. O Brasil ainda engatinhava em abertura de mercado, e quem queria fazer diferente precisava ousar.
Aprendi ali, com muito suor e criatividade, que marketing era essencial para atrair, encantar e fidelizar clientes. Hoje, olhando para as ferramentas digitais que temos à disposição, vejo que muitas das ações que realizamos naquela época podem, e devem, ser adaptadas para os tempos atuais.
Por exemplo: criamos o RegiNotícias, uma mala direta com dicas de trânsito, manutenção, curiosidades e novidades do setor automotivo. Era o nosso jeito de manter o cliente engajado, mesmo fora da loja. Hoje, essa ideia seria perfeitamente replicada por meio de newsletters bem-feitas, posts em redes sociais, blogs e vídeos no YouTube.
As marcas que investem em conteúdo relevante mantêm viva a conexão com o cliente, fortalecem sua autoridade e viram referência. É o que faz uma empresa ser lembrada e procurada.
Nos preocupávamos com o atendimento ao cliente a ponto de criar um SAC antes mesmo disso ser comum. Hoje, esse princípio vale ainda mais: quem não investe em canais digitais eficientes, como atendimento via WhatsApp, chatbots bem treinados ou respostas rápidas nas redes sociais, perde espaço. E mais do que atender bem, é necessário ouvir de verdade e usar esse feedback para melhorar continuamente.
Campanhas internas que realizamos como a “Mania de fazer melhor” engajavam a equipe com foco em excelência no atendimento. Elas podem ser replicadas com programas de cultura organizacional, gamificação, trilhas de capacitação online e premiações internas. O bom atendimento nasce do time bem treinado, motivado e envolvido com os valores da empresa.
Um dos projetos mais disruptivos que colocamos em prática foi o “Leva e traz”, para levar os clientes que deixavam o carro na oficina até um ponto mais central, e pegá-los de volta para retirar o carro pronto. O trajeto era feito em uma perua Brasinca com ar-condicionado, TV, videocassete, frigobar, bancos de couro e muito luxo e conforto.
Esse cuidado poderia hoje se traduzir em uma espécie de concierge digital: agendamento via app, acompanhamento em tempo real da revisão, ofertas personalizadas durante o serviço e até um carro por assinatura temporária enquanto o do cliente está na oficina. A ideia é tornar a vida do cliente mais fácil e confortável, com tecnologia e empatia.
Nosso patrocínio a grandes nomes do esporte, como André Ribeiro e Ingo Hoffmann, hoje teria reflexo direto em ações com influenciadores digitais, embaixadores de marca ou até mesmo parcerias com criadores de conteúdo automotivo no Instagram, TikTok ou YouTube.
A diferença? Agora, temos métricas em tempo real para medir o impacto. Mas o princípio de associar sua marca a histórias verdadeiras, inspiradoras e confiáveis deve sempre permanecer.
Fizemos parcerias com programas de TV como o Shop Tour, emprestando carros em troca de visibilidade. Atualmente, essa estratégia poderia ser usada com reviews patrocinados, unboxings de veículos em canais especializados ou lives com test drives comentados por especialistas.
A verdade é que todas essas iniciativas que realizamos com criatividade e coragem, mesmo sem internet, redes sociais ou automações, se conectam diretamente com as boas práticas de marketing atual.
A tecnologia muda, os canais mudam, mas os fundamentos continuam os mesmos: conhecer o cliente, criar relacionamento, surpreender, entregar mais do que se espera.
Hoje, temos mais ferramentas, mas também mais concorrência e mais ruído. Por isso, quem consegue unir marketing com propósito e consistência tem muito a ganhar. Só assim é possível conquistar, encantar e fidelizar o cliente.
Reginaldo Regino é empresário, engenheiro civil e pioneiro na importação de automóveis no Brasil. É autor de “O primeiro carro importa”, publicado pela Matrix Editora.