PCC-Faria Lima: Genial e Trustee renunciam a fundos alvos de operação


Dois dos pesos-pesados da Faria Lima, principal centro financeiro do país, que estão entre os alvos da Operação Carbono Oculto – deflagrada na última quinta-feira (28/8) para desarticular um esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis que envolve integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), além de fintechs e fundos de investimentos –, anunciaram que renunciaram à gestão de fundos suspeitos de terem sido utilizados por criminosos para lavar dinheiro.

O Banco Genial, que administrava o Radford Fundo de Investimento Financeiro Multimercado Crédito Privado, afirmou que não realizará mais a prestação de todos os serviços do fundo até que o episódio seja devidamente investigado e esclarecido pelas autoridades.

Segundo informações da Receita Federal e do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que estão entre os órgãos que compõem a força-tarefa da Operação Carbono Oculto, o fundo é citado em uma “exceção de indisponibilidade de bens”. A retirada de valores da Usina Itajobi, também mencionada nas investigações, teria ocorrido por meio do fundo.

De acordo com as investigações, a usina teria encaminhado R$ 100 milhões para o fundo Radford por meio da BK Instituição de Pagamento – uma fintech que operaria como uma espécie de “banco paralelo” do PCC.

Em nota divulgada na noite de quinta-feira, o Banco Genial disse que o fundo foi estruturado, inicialmente, por outros prestadores de serviços e acabou sendo transferido ao banco em 2024.

“Na ocasião, a instituição promoveu as devidas diligências, abrangendo o investidor exclusivo e os ativos que integravam a carteira. Desde então, o fundo opera nos termos do seu regulamento”, informou a instituição.

“O Banco Genial sempre conduziu suas atividades com base nos mais elevados padrões de governança corporativa, ética e compliance regulatório, em estrita observância à legislação e regulamentação aplicáveis”, diz a nota.

O Genial informou que, até que todos os fatos sejam apurados pelas autoridades, não haverá mais a prestação de serviços ao fundo, por parte da instituição.

Trustee também renuncia a fundos

Outra administradora de fundos alvo da operação contra o crime organizado, a Trustee DTVM também informou que já havia renunciado à gestão de todos os fundos antes mesmo da deflagração da Carbono Oculto.

De acordo com a empresa, a medida foi tomada “por decisão da área de compliance da Trustee DTVM, por desconformidade de atualização cadastral identificada há alguns meses”.

Ainda segundo a companhia, a Trustee se baseia em processos rigorosos de diligência e em constante averiguação das aplicações nos fundos, além do perfil de seus cotistas. A empresa “ressalta, ainda, que não possui qualquer relação pessoal com os investigados” na operação.

1 de 11

Operação Carbono Oculto

Divulgação/Receita Federal

2 de 11

Operação Carbono Oculto

Divulgação/Receita Federal

3 de 11

Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

Divulgação/Receita Federal

4 de 11

Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

Divulgação/Receita Federal

5 de 11

Cerca de 1 mil postos movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024

Reprodução/ Globoplay

6 de 11

A megaoperação descobriu que pelo menos 40 fundos de investimentos foram utilizados como estruturas para ocultação de patrimônio

Reprodução/ Globoplay

7 de 11

São cumpridos cerca de 350 mandados de busca e apreensão a pessoas físicas e jurídicas em oito estados pelo país

Reprodução/ Globoplay

8 de 11

Operações financeiras por meio de fintechs dificultavam o rastreamento dos valores que eram transacionados

Reprodução/ Globoplay

9 de 11

Foram sonegados mais de R$ 7,6 bilhões em impostos, segundo a megaoperação

Divulgação/Polícia Federal

10 de 11

Proprietários dos postos de combustíveis venderam seus estabelecimentos ao grupo criminoso e eram ameaçados de morte caso fizessem alguma cobrança

Divulgação/Polícia Federal

11 de 11

Há indícios de que lojas de conveniência e padarias também parcipavam do esquema

Divulgação/Polícia Federal

Operação envolve PCC e Faria Lima

Na mira dos investigadores, estão vários segmentos da cadeia de combustíveis que eram controlados pelo crime organizado, entre os quais a importação, a produção, a distribuição e a venda para o consumidor final.

Para isso, os grupos criminosos tentavam “blindar” ou ocultar o patrimônio – e faziam isso por meio de fintechs e fundos de investimentos, o que acaba ligando as fraudes reveladas pela operação à Faria Lima, centro financeiro da maior cidade do país.

​Fintechs são empresas que introduzem inovações no mercado financeiro por meio do uso intenso de tecnologia, com potencial para a criação de novos modelos de negócios. Elas atuam por meio de plataformas on-line e oferecem serviços digitais relacionados ao setor.

No Brasil, há várias categorias de fintechs, como as de crédito, pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, câmbio e multisserviços.

Segundo a Receita Federal, as investigações apontaram que “o sofisticado esquema engendrado pela organização criminosa, ao mesmo tempo que lavava o dinheiro proveniente do crime, obtinha elevados lucros na cadeia produtiva de combustíveis”.

“O uso de centenas de empresas operacionais na fraude permitia dissimular os recursos de origem criminosa. A sonegação fiscal e a adulteração de produtos aumentavam os lucros e prejudicavam os consumidores e a sociedade”, afirma a Receita.

Os suspeitos de envolvimento no esquema usavam importadoras que atuavam como “interpostas pessoas, adquirindo no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel com recursos de formuladoras e distribuidoras vinculadas à organização criminosa”.

Um dos pontos cruciais da organização criminosa, de acordo com as investigações, era a blindagem do patrimônio dos envolvidos. “Os valores eram inseridos no sistema financeiro por meio de fintechs, empresas que utilizam tecnologia para oferecer serviços financeiros digitais. A Receita Federal identificou que uma fintech de pagamento atuava como ‘banco paralelo’ da organização criminosa, tendo movimentado mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024”, afirma a Receita.

Os criminosos controlavam várias instituições de pagamento menores, criando, assim, uma espécie de camada dupla de ocultação do patrimônio. “A fintech também recebia diretamente valores em espécie. Entre 2022 e 2023, foram efetuados mais de 10,9 mil depósitos em espécie, totalizando mais de R$ 61 milhões. Este é um procedimento completamente estranho à natureza de uma instituição de pagamento, que opera apenas dinheiro escritural”, afirmam os investigadores.

Ainda segundo a Receita, a “utilização de fintechs pelo crime organizado objetiva aproveitar brechas na regulação desse tipo de instituição”. “Essas brechas impedem o rastreamento do fluxo dos recursos e a identificação, pelos órgãos de controle e de fiscalização, dos valores movimentados por cada um dos clientes da fintech de forma isolada.”

De acordo com a Receita Federal, já foram identificados pelo menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, ligados ao PCC. Eles eram, em sua maioria, fundos fechados com um único cotista – em geral, outro fundo de investimento, o que aumentava as camadas de ocultação do patrimônio.

Entre os bens adquiridos por esses fundos, estão um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis.

Segundo a Secretaria da Fazenda de São Paulo, as ilegalidades já teriam causado um prejuízo de mais de R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais.



Veja a matéria Completa!

Cookie policy
We use our own and third party cookies to allow us to understand how the site is used and to support our marketing campaigns.

Hot daily news right into your inbox.