PCC na Faria Lima: Reag é “principal responsável” por ocultar bilhões


A investigação da Polícia Federal (PF) que desmontou uma organização criminosa voltada para a lavagem de dinheiro e suspeitas de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) mostra que a Reag Investimentos, uma das maiores gestoras de fundos da Faria Lima, foi a “principal responsável” por ocultar bilhões de reais do grupo investigado.

“Como anteriormente expôs a RFFP, a Reag seria a principal responsável pela ocultação de valores sem origem, que alcançaria bilhões de reais”, diz trecho da decisão que autorizou as ações da PF na Operação Quasar.

A operação, deflagrada na última quinta-feira (28/8), investiga uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituições financeiras, e que utilizava fundos de investimento para ocultar patrimônio de origem ilícita.

Segundo a PF, o grupo usava múltiplas camadas societárias e financeiras, nas quais fundos de investimento detinham participação em outros fundos ou empresas. Entre as estratégias utilizadas estavam transações simuladas de compra e venda de ativos — como imóveis e títulos — entre empresas do mesmo grupo, sem propósito econômico real.

“Essa teia complexa dificultava a identificação dos verdadeiros beneficiários e tinha como principal finalidade a blindagem patrimonial e a ocultação da origem dos recursos”, afirmou  a corporação.

Como mostrou a coluna, a corporação também aponta que o dono da gestora Reag Investimentos, João Carlos Mansur, inflou artificialmente seu patrimônio para obter favorecimento comercial.

De acordo com informações analisadas a  partir de documentos da Receita Federal, o rendimento de Mansur entre 2020 e 2023 teve uma explosão de 1.700%, passando de R$ 31 milhões para R$ 570 milhões em apenas três anos.

O Fisco também aponta que os “bens menos dívidas” cresceram no mesmo período, saindo de R$ 40 milhões para R$ 737 milhões.

Dados da Receita Federal mostram que o valor declarado por Mansur como lucros e dividendos recebidos “é uma fantasia e não possui origem nos rendimentos das suas empresas, supostas pagadoras dos rendimentos”.

Segundo o órgão, o valor teria o único propósito de “suportar o valor de R$ 699 bilhões do capital social da Lurix Participações, cujo nome original era Reag 50 Participações”.

“As inconsistências poderiam se dar como forma de João Carlos inflar artificialmente o patrimônio com intuito comercial, posto se cuidar de gestor de fundos de investimentos”, diz trecho da decisão.

A Operação Quasar, na qual Mansur é citado, foi uma das três operações deflagradas na quinta-feira (28/8) e que investigam o uso de fundos de investimentos para blindar patrimônio e lavar dinheiro de um grupo empresarial supostamente ligado ao PCC atuante no setor de combustíveis.

Dos 21 fundos investigados na Quasar, 10 estiveram sob gestão da Reag Investimentos, segundo a decisão da Justiça. São eles: Celebration, Derby, Wels, Gold Style, Hans 95, Location, Los Angeles (Lucerna), Mabruj II (Rhodonite), Novo Fundo (Reag Leeds) e Olaf 95.

“Aponta-se que os fundos sob investigação recorreriam a mecanismos para encobrir a verdadeira titularidade dos ativos, valendo-se de uma rede imbricada de transações financeiras e negociações imobiliárias, estruturadas com o auxílio de pessoas físicas e jurídicas interpostas, cuja atuação revelaria ausência de substrato econômico legítimo, funcionando como engrenagem para a ocultação e integração de valores de origem criminosa”, diz trecho do documento.

Foto colorida de João Carlos Mansur, fundador da Reag Investimentos - MetrópolesJoão Carlos Mansur, fundador da Reag Investimentos

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Defesa

Questionada pela coluna sobre os rendimentos de João Carlos Mansur, a empresa afirmou que sua evolução patrimonial reflete, também, o crescimento da companhia nos últimos anos, “sendo que tudo se encontra devidamente declarado e de origem lícita”.

“Todas as informações relativas ao patrimônio e aos rendimentos foram devidamente prestadas e esclarecidas junto às autoridades competentes, por meio das declarações anuais de Imposto de Renda, em absoluto cumprimento das normas fiscais e legais vigentes”, afirma a nota.

Sobre os fundos citados, a Reag diz que tinha 10 fundos e oito foram renunciados a partir de 2024, antes da operação.

Quanto a uma suposta relação com o PCC, a Reag esclarece que “nunca manteve, mantém ou manterá qualquer relação com grupos criminosos, incluindo o PCC, nem com quaisquer atividades ilícitas”.

“Reafirmamos que não há qualquer participação da empresa ou de seus executivos em operações de ocultação de patrimônio ou de lavagem de dinheiro”, diz a manifestação.

Em nota divulgada pela Reag, a empresa refutou “veementemente” qualquer atuação em irregularidades apontadas pelas investigações e diz que “recebeu com surpresa as divulgações que a envolvem em supostas irregularidades investigadas no âmbito da Operação Carbono Oculto [uma das três operações que miraram lavagem de dinheiro]”.

A Reag também afirma que “atua em linha com as normas vigentes no mercado financeiro e de capitais” e que há diversos Fundos de Investimentos mencionados na operação que nunca estivaram sob sua administração ou gestão.

“Em relação aos Fundos de Investimento que a empresa manteve prestação de serviço, sua atuação sempre foi diligente e proba, e os Fundos foram, há meses, objeto de renúncia ou liquidação. Sua trajetória demonstra práticas sólidas de governança e transparência, com base em ética e rigor técnico”, diz trecho da nota.

Por fim, a empresa ressalta que possui controles internos “rigorosos” de prevenção à lavagem de dinheiro, em linha com padrão dos reguladores aos quais está submetida.

“A Reag seguirá atuando com ética, diligência e transparência, sem qualquer tolerância a desvios, sempre em colaboração com as autoridades e em defesa de um mercado financeiro saudável e de seus clientes e investidores”, afirma.



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